Digitando: MEDD14 - Tutoria

Afinal, o que é ensinar?

Se nos perguntassem o que seria ensinar, possivelmente reagiríamos pensando “ora, o ensino é um conceito tão comum a todos que parece tolice ter que descrevê-lo”. Eu lhes digo, entretanto, que vale a pena questionarmos os conceitos enquadrados no conhecimento geral. Experimente perguntar sobre eles. “Ensinar é passar conhecimento para quem ainda não o tem”, alguém diria. “Ensinar é transferir conhecimento para que o outro possa aprender algo novo”, outro talvez acrescentasse.

Quando se trata de conceitos gerais, sempre é válido procurar suas origens. Seriam, então, os seres humanos receptáculos de informações, cada um em diferentes níveis de enchimento, esperando passivamente para serem preenchidos? O conhecimento é algo palpável, sólido, que se pode possuir e, portanto, doar, como uma fruta? “Sim, claro”, lhe diriam. Se isso for uma verdade, e duvido que seja, diga-me onde está o pomar, e nunca mais precisaremos pensar outra vez.

O conhecimento não sendo um objeto, pois não pode, conceitualmente, ser, não podemos repassá-lo. Resta-nos desenvolvê-lo, não como fruto a ser consumido, mas como flor a ser desabrochada. Como o grande nome da educação, Paulo Freire, já proclamava, décadas atrás, “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. O educador, portanto, não se trata de um doador de conhecimento, mas o mediador que facilita o processo de busca. O ato de ensinar deve ser uma jornada bilateral de crescimento, sendo o aprendizado, não o fim, mas o meio pelo qual alcançamos o desenvolvimento pessoal, a ação de “estar em um local que nunca estive antes, pelo simples motivo de até então eu não o ter criado”.

 

Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.

Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o voo.

Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.

Rubem Alves

 

Inserção do PET na disciplina MEDD14 - Tutoria

A disciplina MEDD14 – Tutoria foi ofertada de forma inédita durante o Semestre Letivo Suplementar (SLS) pelo professor Pedro Guimarães, também tutor do PET Medicina. Teve como objetivo trabalhar os tópicos de Educação Tutorial, baseados principalmente no tripé universitário de Ensino, Pesquisa e Extensão, além de encorajar o desenvolvimento individual e construção autônoma dos conhecimentos passados. Os monitores desenvolveram um projeto de inserção com sete encontros síncronos (quatro teóricos, dois interativos e um voltado para a avaliação da disciplina), que ocorreram quinzenalmente, alternados com as aulas teóricas dos professores.

O diferencial da presença de monitores bolsistas do PET, guiados pelo conceito acima de “ensino”, consiste no diálogo de aluno para aluno, tornando os estudantes da disciplina mais confortáveis e desinibidos; as metodologias ativas aplicadas, como aulas interativas e dinâmicas de comunicação tranquila e horizontal; exemplos "fora da caixinha" lúdicos e roleplays divertidos e engrandecedores. Ademais, a monitoria se propôs a repassar conteúdos teóricos e práticos e incentivar o pensamento crítico acerca do papel do estudante para a construção da sua Universidade e sua própria experiência dentro dela, além de introduzir os alunos ao trabalho do PET e conhecer a sua proposta como grupo.

 

Roleplay: uma metodologia nova e promissora

Uma das grandes conquistas do grupo PET e um diferencial para os alunos da disciplina de Tutoria foi a introdução do Roleplay no nosso repertório de atividades. Descobrimos o quanto essa metodologia é proveitosa, divertida, didática e lúdica! Os dois encontros no modelo de roleplay partiram da criação de uma comunidade-fantasia baseada em experiências anteriores em extensão, com o desenvolvimento de uma atividade interativa de interpretação de papeis, onde alunos e monitores representaram diferentes personagens da narrativa a fim de reproduzir da forma mais fiel possível uma atividade de extensão e a construção de um projeto de pesquisa a partir dela. Essa metodologia foi inédita ao PET e gerou resultados acima do esperado, criando um ambiente descontraído no qual os alunos foram agentes ativos na construção do seu conhecimento e que rendeu grandes elogios por parte desses.

Como introdução à atividade, um "ACS" de uma comunidade quilombola baiana manda um áudio descrevendo brevemente a comunidade e pede ajuda ao "grupo PET" (representado pelos estudantes da disciplina) com alguns problemas. Durante a aula síncrona, foi criado um teatro divertido para o que foi descrito como "visita diagnóstica", mostrando imagens da comunidade e fotos dos moradores, interpretados pelos monitores, como uma líder comunitária, uma senhora religiosa, a professora da escola local, entre outros. A partir disso, os alunos puderam interagir com o ambiente e os moradores da comunidade, identificar problemas, criar um projeto de extensão com base nas necessidades da comunidade em questão e discutir formas de aplicá-lo, com suas possíveis intermitências.

 Em um outro momento, no roleplay de pesquisa, foi descrita brevemente como aconteceu a visita que os alunos haviam proposto previamente, os novos problemas identificados, as soluções ofertadas e as experiências que eles "viveram" durante o cenário fictício de extensão imaginado no roleplay anterior, de forma a criar uma continuidade. A partir disso, os alunos deveriam propor um projeto de pesquisa com a população da comunidade em questão ou sua experiência com ela, desde a definição da pergunta de pesquisa até a submissão à Plataforma Brasil, além de descrever sua aplicabilidade e possível retorno positivo para a população.

A experiência como um todo foi engrandecedora para os dois grupos envolvidos, tanto monitores como alunos da disciplina, além de muito divertido e descontraído. A atividade fez com que o grupo interagisse e se entretece, contornando algumas barreiras do ensino à distância. Foi possível identificar pelo feedback dos alunos e, posteriormente, pelos relatórios, que eles conseguiram atingir os objetivos propostos e internalizar os conhecimentos programados pela disciplina de forma efetiva, rápida e didática. A avaliação dos relatórios foi surpreendente: mais completos do que esperávamos, abordando todos os pontos propostos, inclusive as informações subjetivas que somente sonhávamos em conseguir deixar implícito nas reflexões em aula. Foram feitos muitos elogios à disciplina e acreditamos que o sucesso tenha sido devido às metodologias ativas utilizadas e a experiência descontraída e cultural dos roleplays.

Para os monitores, a experiência não foi nada menos que incrível. Nos propomos a ensinar, e concluímos cada encontro transbordando do conhecimento mútuo construído, absolutamente impressionados com a criatividade e a genialidade das pontuações feitas em sala, e sinceramente emocionados com a ânsia de todos pelo aprendizado, sua inocência bondosa e vontade de entregar sua melhor versão.

 

Luiza Brito