Digitando: As falácias argumentativas de dispersão

 

Seja bem vindo à Ágora, caro cidadão da pólis virtual. Hoje dissertaremos sobre um dos temas mais importantes e antigos no estudo da dialética, do diálogo, da tomada de política, da filosofia e da ciência. Sim, iremos para a base de como se transporta o conhecimento e mais importantemente analisaremos como não cair em armadilhas feitas por nossa própria ignorância ou por má-fé alheia: estudaremos as falácias argumentativas.

Como o espaço é curto e o tempo do internauta é escasso vamos abordar somente as falácias do tipo de dispersão dessa vez, então sem mais delongas: Quais são as principais falácias argumentativas e como refutá-las?

A raiz falaciosa dos argumentos que se baseiam em dispersões é fazer com que o ouvinte saia tanto da questão focal da discussão como também da sua razão. Resumidamente esses argumentos escondem sua falsidade tirando o foco do interlocutor.

Apelo a ignorância

O apelo a ignorância reverte o ônus da prova e tenta convencer o interlocutor que a ausência de prova é uma prova. Dois exemplos clássicos são os argumentos a favor do sobre natural “Ninguém nunca conseguiu provar que fantasmas não existem, logo eles existem” ou referentes a eficácia de tratamentos médicos “Não há prova que a medicação X faça mal, logo ela faz bem”. O cerne dessa retórica falaciosa é tirar o foco na argumentação vigente revertendo o ônus da prova, e há algumas formas de expor essa falácia, uma dela é utilizar a retórica do absurdo. O absurdo é uma tática que pega a mesma premissa falaciosa e mostra como ela pode levar a consequências absurdas o que faz com que os ouvintes percebam que se trata de uma falácia, ex: “Utilizando essa lógica, não há como provar que eu não sou uma divindade da sabedoria, portanto, como eu sou uma divindade da sabedoria sei que você está errado”. A lógica do absurdo sempre pode ser utilizada contra praticamente todas as falácias. Outra forma é retomar o ponto central da argumentação, ressaltando a obrigatoriedade do ônus da prova.

Falso dilema

O falso dilema consiste em criar uma construção que leve a crer que só existem duas alternativas, eliminando todas as outras possibilidades, normalmente é utilizado da seguindo a seguinte lógica: O falacioso quer te convencer a ser partidário de um ponto A, então ele apresenta a proposição de uma forma em que ou você concorda com A ou você automaticamente concorda com B que normalmente é algo que não é desejável. Ele também pode ser utilizado bilateralmente, de uma forma a simplificar discussões que são complexas. Exemplos da vida real: “Brasil, ame-o ou deixe-o” “Ou você é contra a legalização das drogas ou você é a favor do tráfico”. Uma boa maneira de rebater este argumento é identificar pelo menos uma terceira opção, apresenta-la e concluir que na realidade ainda existem várias outras e que a lógica apresentada é reducionista.

Derrapagem ou bola de neve

A falácia da bola de neve utiliza uma proposição complexa com várias sequencias lógicas, na qual pelo menos uma é falsa, mas tenta dispersar ouvinte tanto apelando ao sua emoção quanto fazendo com que fique exaustivo discutir cada passo da argumentação apresentada. Exemplo: “Se aprovarmos leis contra armas automáticas, não demorará muito até aprovarmos leis contra todas as armas, e então começaremos a restringir todos os nossos direitos. Acabaremos por viver num estado totalitário. Portanto não devemos banir as armas automáticas.”. Neste caso o falacioso tenta associar a aprovação de leis contra armas automáticas a ascensão de um estado totalitário, o que é um salto lógico enorme. Para contra argumentar essa falácia, indique o(s) ponto(s) onde é feito um salto lógico evidente e os exponha mostrando que essa conclusão não é garantida.

Pergunta complexa

A pergunta complexa basicamente tentará elencar duas ou mais afirmações sendo que elas não necessariamente andam juntas, logo, o contra-argumento é deixar evidente que é possível concordar com uma das proposições e discordar da outra. Exemplos “Você apoia as liberdades individuais e o direito de andar sem máscara em uma pandemia?”  e “Você ama seu país, portanto defende seu governo?”. Observem como esta falácia é parecida com o falso dilema a diferença consiste em que o falso dilema associa que discordar de A = concordar com B, enquanto a pergunta complexa impõe que concordar com A = concordar com B.

Agora cidadão dessa pólis virtual, se quiser exercitar os conceitos aprendidos hoje é só abrir os olhos ao próximo debate político, reportagem, mensagem ou discussão no “grupo do zap” que em inúmeros momentos as falácias aparecerão e cabe a você refutá-las. Se você quiser saber mais sobre esse assunto procure as referencias abaixo, e comente e compartilhe esse texto para que sabermos se esse tópico merece mais textos ou não.

Texto escrito por Thiago Jesuino

[1] - Downes, Stephen. Guia das Falácias. Disponível em: http://www.lemma.ufpr.br/wiki/images/5/5c/Falacias.pdf, acesso em 27/12/2020.

[2] - Almossawi, Ali.O livro ilustrado dos maus argumentos. 1ª Edição. Editora Sextante, 2017.