Afinal, o que é comunicar?
Muitas vezes, nós pensamos o processo de comunicação reduzido a ação de falar e ouvir, no entanto, não refletimos sobre o real sentido dessa palavra. Para pensarmos sobre isso devemos, primeiro, retornar a história: as palavras sempre existiram? Os sons sempre existiram? A escrita como conhecemos sempre existiu?
Todas essas perguntas podem ser facilmente respondidas com um “não”. Dessa forma, como se comunicavam nossos antepassados? Através da comunicação não verbal. Essa pode ser traduzida em desenhos, danças, movimentos do corpo, gestos e expressões. Cada um desses elementos faz parte do processo de comunicação. Assim sendo, agora podemos diferenciar alguns termos: falar, ouvir, escutar e comunicar.
Falar é o ato de emitir uma mensagem no formato de palavras, geradas através das nossas cordas vocais. Nós, normalmente, aprendemos a falar quando crianças a partir dos estímulos de nossos pais ou responsáveis. Na mesma linha de pensamento, podemos definir o ouvir como um processo fisiológico de audição passiva de uma mensagem. Agora você pode se perguntar, o que difere a “escuta” do “ouvir”? Enquanto o ouvir é um processo passivo, escutar é um exercício ativo, de interpretação, construção de sentido, conexão com sentimentos em relação ao que é ouvido.
Agora sim, podemos partir para o conceito mais complexo: a comunicação. A comunicação envolve, antes de tudo, uma intenção, isto é, o ser humano possui algum objetivo em se comunicar, desde inserir-se em um meio social, até, por exemplo, despertar emoções ou explicar um conteúdo. Então, lembre-se, comunicação envolve intencionalidade. Além disso, comunicação envolve conexão, ou seja, para que uma comunicação se estabeleça é necessário que, no mínimo, dois interlocutores estejam abertos para emitir e interpretar mensagens transmitidas com intenção, baseadas em suas bagagens, sejam elas crenças, emoções, histórias, habilidades, etc. Nesse viés, comunicação é uma interlocução entre dois universos distintos, haja vista que cada ser humano possui uma história diferente que interfere, de modo direto ou indireto, no seu processo de comunicação.
E como se expressa a comunicação?
O elemento mais comum que conhecemos é a linguagem verbal. Aqui, para que uma comunicação se estabeleça usam-se palavras, contudo isso não é feito de maneira “pura e simples”. Para que a comunicação seja eficaz, as palavras devem ser de intersecção entre os dois universos dos interlocutores, a fim de evitar falhas ou incompreensão no processo comunicacional. Muitas vezes, são necessárias adaptações na linguagem verbal, seja para simplificá-la, seja para moldá-la a um contexto mais formal ou complexo.
Outro elemento, que muito passa despercebido, mas que é fundamental para a comunicação é a já citada linguagem não-verbal. Nessa esfera temos: símbolos, sinais, expressões faciais, linguagem do corpo e outras formas de linguagens de culturas específicas ou países específicos. Mas qual a importância da linguagem não verbal? Muitas vezes as palavras não conseguem traduzir perfeitamente o que nós ou nosso interlocutor desejamos dizer, então nossos gestos e expressões nos auxiliam nesse processo. Inclusive, muitos aspectos da nossa linguagem não verbal são inconscientes, ou seja, fazemos em pensar, e é nessa seara que entram os pesquisadores da Linguagem Corporal, que tentam desvendar a linguagem implícita da nossa comunicação e estabelecer um diálogo entre ela e a linguagem explícita (dos códigos e palavras). Nesse cenário, podemos ter discordâncias ou concordâncias entre nossa linguagem conscientemente exteriorizada e inconscientemente exteriorizada e é por isso que precisamos estar atentos a todos os elementos que envolvem a nossa comunicação e a nossa intenção ao estabelecer esse vínculo com outra pessoa. Vamos a um exemplo: imaginem uma pessoa cabisbaixa, olhos caídos, encurvada e você pergunta para ela se ela está bem... Ela te responde com um “sim”. É automático pensar que pode haver uma discordância entre as linguagens verbal e não verbal, devido a isso, precisamos estar atentos ao que queremos comunicar e como nos comunicamos.
Então, caro leitor... Trouxe você até aqui para perguntar: E você, o que deseja comunicar? Como pensar sobre comunicação pode te ajudar em sua vida?
É extremamente importante que ao estabelecer um processo de comunicação busquemos fazê-lo da forma mais eficaz possível, para que não ocorra discordâncias e falhas nesse processo tão importante, que nos define como seres sociais. Nesse sentido, podemos usar de alguns aspectos para moldá-lo:
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Atenção aos gestos. Eles podem nos auxiliar a transmitir uma mensagem (como gesticular em uma aula ao explicar um conteúdo).
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Atenção à postura. A nossa postura pode passar diferentes imagens de nós: uma postura mais encurvada (exceto em caso de patologias), pode passar uma ideia de cansaço, introspecção; enquanto uma postura é vista, inclusive em entrevistas de emprego, como confiança.
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Atenção às palavras conforme o contexto. Não há como estabelecer uma comunicação efetiva usando palavras complexas ou restritivas a uma área com uma pessoa que as desconhece.
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Atenção aos sinais passados pelo interlocutor. Esteja sempre atento se nas expressões faciais do seu interlocutor, ele demonstra estar compreendendo o que você está falando, bem como se ainda está interessado em estabelecer o processo de comunicação. Isso é extremamente importante.
- Atenção ao volume e o tom da sua voz, bem com as expressões faciais. Esses aspectos também podem ser adaptados para diferentes situações e podem transmitir diferentes intenções e sentimentos.
Existem muitos outros aspectos que podemos ser estudados, praticados e analisados no processo comunicacional. Como assim “praticados”? Bom, a comunicação é uma habilidade que pode ser praticada e melhorada, quanto mais nos comunicamos e voltamos nossa atenção a esse processo, podemos nos tornar melhores comunicadores.
Imagino, querido leitor, que você deva estar pensando bastante sobre comunicação no momento e, inclusive, pode se perguntar: “tantos aspectos a serem pensados podem tornar minha comunicação engessada?”
Basta pensar que comunicação é um processo intrínseco a nós, seres humanos, portanto, é um processo natural. Tantos aspectos que envolvem a comunicação não precisam ser utilizados nas 24h do seu dia, mas podem te ajudar muito nas suas relações interpessoais, profissionais e acadêmicas, por exemplo.
Por fim, espero que eu tenha despertado em você a curiosidade de estudar e compreender sobre comunicação, bem como espero que esse pequeno diálogo tenha lhe motivado a melhorar ou praticar essa sua habilidade. Quero lembrar-lhes: a comunicação é uma interlocução entre dois universos distintos. Por meio dela, podemos aprender muito sobre nós mesmos, sobre o outro e sobre o mundo que nos cerca.
Referências:
WEIL, Pierre; TOMPAKOW, Roland. O corpo fala: a linguagem silenciosa da comunicação não-verbal. 74 ed. Petrópolis: Vozes, 2015.